Por Afrânio Garcez.
É nas veredas d’alma que se vê como a arte tem e a educação, dentre outros segmentos que a nossa sociedade busca atualmente que se manifestam verdades e mais verdades sobre o que vem acontecendo neste nosso amado torrão natal. Fui convidado pela OngCatrop para participar da 12ª primavera dos museus, é um movimento à nível nacional que visa chamar a atenção da população e principalmente dos gestores públicos, sobre a importância da preservação da memória e história do nosso povo brasileiro à nível, nacional, estadual e municipal.
Aqui em Vitória da Conquista, este importante evento foi realizado na Casa Memorial Régis Pacheco, e contou em seu ultimo dia com atividades como ofertar aos menores da Pastoral do Menor, um belo café matinal típico dos tropeiros, e depois educação e cultura, como realização de palestras, conversas, e ensinamentos educacionais para os jovens convidados, que maravilhados a tudo assistiam atentamente.
As atividades consistiram em pinturas, conversas, e explicações sobre a importância dos museus na vida educacional e cultural de todos nós. Foi palestrante a mestranda em museologia, Maris Stella Schiavo Novaes, presidente da Catrop, e outras pessoas ligadas aos projetos Proler, Reaja, e outros mais que são capitaneados de maneira incansável e árdua pela minha sempre querida e estimada amiga e confreira Professora Doutora Heleusa Câmara, e se fizeram presente vários colaboradores do projeto com as minha amigas Ebeilde Araújo Pedreira Goulart, a Prof. Irlândia Rocha, dentre outras tantas personalidades tão ilustres em nossa sociedade, estado e nação.
Toda a programação por incrível que pareça foi realizada tão somente com doações e dinheiro dos próprios organizadores, pois não houve a participação das secretarias municipais de cultura e educação que não puderam viabilizar sequer a doação de papel ofício, papel madeira, cartolina, lápis para colorir etc, muito embora tenha sido feita uma solicitação neste sentido. Na parte da tarde, o evento ocorria normalmente com bastante presença de expoentes da vida cultura e educacional da nossa cidade, e ao fim antes dos debates finais fomos brindados com grata e feliz surpresa, qual seja, a apresentação do jovem ator, dançarino e diretor de teatro, Wagner Silveira Santos, que é responsável pela Companhia Kagemi de Teatro. Mais surpreendente ainda foi saber que este jovem, antes de conhecer a Catroop havia parado os seus estudos sem concluir sequer o curso fundamental, e andava sem quaisquer expectativas de vida.
Foi convidado a retornar aos estudos, e com o apoio de toda a diretoria da Catrop e das pessoas já mencionadas logrou êxito em ser aprovado no vestibular na UFBª, para o curso de dança, onde hoje é aluno dedicado no “campus” de Vitória da Conquista, e já possui o reconhecimento de sua arte em todo o País, menos em nossa cidade. Explico: Ele é divulgador da perfomance da dança japonesa denominada Buthot, sur¬gida no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970. Criada por Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno na década de 1950 o butô é tam¬bém ins¬pi¬rado nos movi¬men¬tos de van¬guarda: expres¬si¬o-nismo, sur¬re¬a¬lismo, construtivismo. Este maravilhoso talento que é uma pedra rara e preciosa já devidamente lapidada.
A sua performance foi baseada na “Dança do Fogo”, tendo como pano de fundo, um telão onde era exibido imagens que mostravam aos atentos espectadores o tragédia que foi o incêndio do Museu da Quinta da Boa Vista, e se perdeu mais de 90% do acervo e de pesquisas quase 100%, com vídeos da imprensa nacional e mundial. Ao final do espetáculo, onde foi bastante ovacionado, e após os debates finais, eu fui conversar com ele, e confesso fiquei muito triste ao tomar conhecimento de que não consegue que lhe seja disponibilizado um espaço em qualquer dos locais apropriados em nossa cidade para que possa fazer ao menos os seus ensaios, isto vale para o Centro de Cultura, Teatro Carlos Jehovah e outros. Mais triste ainda foi saber que jovem de origem humilde e sem perspectivas, agora é reconhecido na Bahia, no Brasil e menos aqui em sua cidade natal, que é aminha também, aliás, eu sequer sabia da existência desta companhia e deste tipo de desempenho.
Chamo a atenção, e conclamo os gestores municipais, estaduais e federais a apoiá-lo, pois certamente em assim se agindo, em breve teremos mais um grande nome divulgando o nome de nossa cidade com o brilhantismo e destaque que merece, e que sempre foi uma característica nossa. Não é justo e correto que um jovem talentoso não possa ter disponibilizado em seu favor na própria terra natal, de um local onde possa não somente fazer seus treinamentos e ensaios, mas também suas apresentações que enternecem os corações e almas de todos que como eu tiveram a sorte de assisti-lo. Nós precisamos nestes tempos é de mais cultura e qualidade na educação, saúde, segurança, etc, mas também precisamos ser justos e valorizamos o talentoso jovem diretor Wagner Silveira, e é o que eu estou fazendo ao escrever estas palavras. Parabéns à Catrop e todos os mencionados, em especial ao jovem representante do Buthoh ou simplesmente Butô Wagner Silveira.
*Dr. Afranio Garcez, é advogado pós graduado em direito, com várias especializações, inclusive em criminologia, jornalista, escritor, poeta, historiador, membro da Academia Conquistense de Letras, dentre outros títulos.
O texto acima foi enviado por um colaborador. Os textos de colaboradores não representa necessariamente a opinião editorial do Blog do Caique Santos.