(Prof. Dirlêi A Bonfim)*
Estamos vivendo um momento difuso, do recrudescimento das relações, esse fenômeno não é novo e não acontece apenas no Brasil, em todos os países do mundo e não importa se são ricos ou não, Educação, Ciência e Tecnologia, são tratados como Projetos e Políticas de Estado, estratégia de desenvolvimento econômico, social, humano e político, assim como, Saúde, Segurança Pública, Agricultura, Indústria e Comércio, Infraestrutura, Meio Ambiente, Economia e Felicidade.
A instituição Universidade no Brasil, do ponto de vista histórico ainda é uma coisa muito nova, ainda em processo de construção, mas constantemente passando por um processo de desmonte. A primeira instituição de ensino superior foi a Escola de Cirurgia da Bahia, criada em 1808. A universidade mais antiga é a Universidade de Manaus que foi criada em 1909, sendo hoje chamada de Universidade Federal de Manaus, atual UFAM. Naquela época já havia algumas instituições de ensino superior no Brasil até antes da Universidade Federal do Amazonas, mas nenhuma era considerada Universidade antes de 1909. Comparada a Universidade de Bolonha de 1088, na cidade de Bolonha, na Itália, é fundada a Universidade de Bolonha que viria a ser conhecida como a primeira Universidade da Europa onde se estudava direito, medicina e teologia.
E naturalmente a Educação, a Ciência e a Tecnologia que se apresentam como elementos essenciais e molas propulsoras para se alcançar o tão esperado desenvolvimento e bem estar social. Portanto, a figura do profissional da educação deve ser respeitada, valorizada e reconhecida como de vital importância para qualquer sociedade que se preze. Não é o que está acontecendo na sociedade brasileira a muito tempo. Os últimos governos, independente da sigla partidária ou do viés ideológico, foram ao longo dos anos reduzindo, cortando, contingenciando e bloqueando os recursos e orçamentos para a Educação, desde a educação básica, passando pelos Cursos de Graduação, aos Programas de Pós-Graduação.
Isso não se prende apenas a União, também Estados e Municípios. É claro que todas as instituições precisam aprender a gerir os recursos públicos, não se trata disso, nós sabemos que no Brasil os desperdícios de recursos/orçamentários, são gritantes, bem como, os desvios que existem e são grandes e em muitos casos comprometendo fortemente os objetivos das instituições, seus projetos e fins acadêmicos, científicos, tecnológicos e sociais.
Em todas as instituições públicas, não podemos esquecer que os recursos são públicos em mais de 95% e portanto, devem ser tratados com todo cuidado, lisura e a ética necessária na sua utilização, com a devida prestação de contas à sociedade, até porque grande parte da sociedade que paga a conta e banca com os impostos o financiamento dos governos e consequentemente pagam pelo custeio da máquina pública, muitas vezes, não terá a oportunidade de desfrutar para si, ou seus filhos de uma vaga na Universidade Pública. Portanto, não se trata disso. Segundo o Professor Darcy Ribeiro(1982), “… a Educação e a Escola, como sempre, é um meio de transformação. Mas estamos falando de uma boa escola: com professores valorizados, bem formados, para que crianças possam sonhar com um futuro que não seja miserável”,
Consubstanciando o Professor Darcy Ribeiro, o Pensador Paulo Freire, (2001), vai dizer sobre o processo educacional …“Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos.” “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” Ou ainda, “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção, do conhecimento da pesquisa científica da integração ciência e humanidades…”
Afirma também, que “A leitura do mundo precede a leitura da palavra. Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente.” Ainda sobre o processo educativo o Professor Anísio Teixeira (1999), vai dizer, para o pensador, (…) “não se aprendem apenas ideias ou fatos mas também atitudes, ideais e senso crítico – desde que a escola disponha de condições para exercitá-los. Assim, uma criança só pode praticar a bondade em uma escola onde haja condições reais para desenvolver o sentimento e o gosto, pela ciência, pesquisa, tecnologia e a difusão do conhecimento”…
Enquanto tentam demonizar os professores e pensadores quando deveriam valorizar, tentando transformar esse segmento tão importante ou mesmo essa categoria em verdadeiros monstros que estão a serviço de uma conspiração da mais absoluta e irreal “ameaça comunista” através da “doutrinação pseudo ideológica” do chamado “marxismo cultural” e o combate incondicional aos herdeiros e seguidores do Filósofo, Antônio Gramsci, que entre outras coisas, ficou famoso principalmente pela elaboração do conceito de hegemonia e bloco hegemônico, e também por focar no estudo dos aspectos culturais da sociedade… (a chamada superestrutura no marxismo clássico), como elemento a partir do qual poder-se-ia realizar uma ação política e como uma das formas de criar e reproduzir a hegemonia.
Segundo o Professor Bertone Souza (2012), (…) “A estratégia de um certo ideólogo, que reside na Virgínia nos EUA e, seus seguidores é a seguinte: eles pegam alguns autores católicos ou de extrema direita, reafirmam o que eles dizem abrindo mão do diálogo com qualquer outro autor ou vertente, depois posam de grandes intelectuais e sabichões. Se a pessoa não for atenta e o mínimo preparada e temos consciência que a maioria não é, vão certamente cair na armadilha dos chamados “intelectuais” de redes sociais porque eles argumentam bem, usam a dialética erística para enganar e seduzir os incautos.
São na maioria das vezes pessoas inescrupulosas oportunistas que querem se aparecer e que não têm o comprometimento com a investigação científica, só com a militância e não se envergonham de fraudar os fatos para se colocarem como arautos da razão”. Diz o Professor. Já o ideólogo/astrólogo/de plantão, é fundador e proprietário do site Mídia sem Máscara, que reúne vários colunistas de extrema direita que escrevem com o único propósito de denunciar o esquerdismo e o que acham ser planos da esquerda para a tomada do poder mundial”. Ainda sobre o pensamento do Filósofo de fato, Antônio Gramsci, afirma o Professor Fábio Vilella(2013), (…) “o Pensamento de GRAMSCI é constantemente revisitado por eruditos das mais diversas correntes, graças à superior qualidade do mesmo.Sua obra é considerada de suma importância para os estudos relativos à Teoria Critica e aos assuntos culturais, com destaque para as análises referentes à “Cultura Popular”.
Assim se posiciona uma voz completamente reacionária do ideólogo de “mito”, a dizer que estaria em curso no país desde a década de 1960, dominando a imprensa e, principalmente, as universidades e escolas públicas do país, ameaçando de forma sistemática os valores “judaico-cristãos” da família tradicional brasileira através da imposição de uma suposta “ideologia de gênero” no ambiente acadêmico e escolar, as medidas até agora anunciadas e implementadas pela atual gestão, aprofundam o verdadeiro apartheid educacional do país, cada vez mais imerso num profundo abismo que divide a situação das escolas públicas, a falta de recursos para a Educação básica, ou ainda a discussão sobre a tal “escola sem partido”. Segundo o Professor Jessé Souza (2018), “Escola sem partido é escola sem educação” ou ainda, “Escola sem partido, é educação sem futuro”, também a questão das quotas raciais e sociais, que dominam atualmente uma parte das preocupações e discussões dentro do MEC, sobre o que fazer para desconstruir as “pseudas ideologias de esquerda”, que assolam os cursos das áreas de Ciências Humanas e Sociais, inclusive se utilizando do discurso vazio de que as Universidades brasileiras estão dominadas pelos “esquerdopatas”, pela “balburdia” e outros tantos adjetivos que aqui não vamos mencionar, até porque, precisamos falar de coisas mais sérias e relevantes.
É também muito presente entre os Pesquisadores que os Programas de Bolsas da Capes, para a Pós-Graduação stricto sensu, ao longo de décadas, vem acumulando perdas e cortes e agora, simplesmente acabou… não teremos mais recursos para a Pesquisa. País sem pesquisa está destinado ao fracasso… Me coloco a refletir sobre o quão esse discurso é tosco, inócuo, estapafúrdio, despreparado e maldoso de formasistemática e intencionada e simplesmente não ajuda a construir a academia, a produção científica brasileira, a ser mais forte e qualificada para o seu reconhecimento no plano internacional e que está diretamente ligada também a questão orçamentária, ou seja, sem recursos não se faz pesquisa científica e os recursos a cada ano, são minguados e reduzidos. A quem realmente interessa esse discurso…?
No desempenho da função de Educador/Professor a mais de 30 anos, confesso que nunca me senti, tão afrontado, ultrajado e vilipendiado, no meu labor, mais do que isso, no meu ofício de Educador, nesse momento sombrio a que estamos todos nós a vivenciar na sociedade brasileira. Ao conversar com os colegas Professores, percebo um sentimento do mesmo de clima de sofrimento, desconforto, desrespeito e temor por tudo que está acontecendo.
Todavia, isso nos motiva a continuar incansavelmente o nosso trabalho e a enfrentar todos os desafios que se apresentam, percebo também,que há um clima sim organizado, de demonização dos servidores públicos, especialmente dos Professores, inclusive procurando, desqualificar, desconstruir e denegrir, a imagem dos Professores e Pensadores brasileiros e outros notadamente das áreas das Ciências Humanas e Sociais, não é atoa a decisão de se retirar das matrizes curriculares as disciplinas de Filosofia e Sociologia. Afinal pensar é perigoso, despertar o senso crítico, nem pensar… aliás como está muito presente, na detratação da obra de importantes e expressivos Pensadores de reconhecimento universal como os Professores, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Antônio Gramsci, entre outros, tantos intelectuais que ao longo de décadas com muito trabalho e contribuição às Ciências dedicaram as suas vidas às Universidades e, claro enfrentando o descaso e a anomalia dos governos com a Educação, Ciência e Tecnologia. É claro que o atual modelo educacional está em cheque. Um dos principais motivos para isso é que ela não corresponde às necessidades do mundo atual.
Nossos sistemas educacionais de hoje foram criados em um mundo em plena revolução industrial, onde faltavam pessoas obedientes, capazes de seguir ordens, cumprir rotinas e realizar tarefas repetitivas, por muitas horas por dia. Ironicamente, até hoje ainda tentamos formar pessoas assim, e mesmo assim falhamos com certa frequência. Entretanto, o Brasil e boa parte do mundo de hoje (com exceção de centros industriais como a China) está se desindustrializando. Novas oportunidades e mercados inteiros surgem a partir da explosão de criatividade; comércio e serviços; Internet; turismo; envelhecimento da população, etc. Mas para poder viver nesses tempos atuais, precisamos ser mais e novos protagonistas. Educação : para que mesmo…? A partir de uma provocação filosófica e reflexiva: “E se aprender fosse nosso propósito de vida em comum?” e quando se busca questionar a educação e a vontade de aprender motivada por fatores externos (como melhores salários ou empregos), de forma utilitária, em contraposição aos fatores internos (curiosidade e propósito). Hoje entendemos isso como protagonismo. Protagonismo é o processo de se considerar o personagem principal da própria vida, de lutar e querer ocupar um lugar de destaque, controle e responsabilidade das próprias decisões. Precisamos de protagonismo na nossa sociedade e nas nossas organizações. Precisamos de uma educação de ponta e protagonista, ciência e tecnologia de ponta e protagonista e claro, seus pensadores e professores reconhecidos, respeitados, motivados e protagonistas.
**contribuição do Professor DsC. Dirlêi A Bonfim, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Ambiental, Professor da SEC/BA**Sociologia**Cursos/FAINOR de ADM/CONTÁBEIS/ENGENHARIAS/FAINOR/2019.1**