(Por Ernesto Marques, jornalista)*
As opiniões de um grupo de empresários de um tal “conselho consultivo” criado informalmente para auxiliar o prefeito Hérzem Gusmão, chocam pela leviandade. Não se pode acusar genericamente um conjunto de jornalistas concursados de atuar contra o governo atual. Em última análise, fossem verdadeiras as acusações, estariam os servidores agindo contra o Município. Não se trata, portanto, de mera opinião, mas de acusação grave contra jornalistas profissionais, formados pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, que se submeteram a um concurso e ultrapassaram a etapa do estágio probatório.
Se ainda vale o princípio segundo o qual o ônus da prova cabe ao acusador, deve o porta-voz do tal conselho, procurar o Ouvidoria do Município e registrar sua denúncia. O passo seguinte seria a abertura de um PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar) e, assegurado o devido processo legal e o amplo direito de defesa, até a conclusão que poderia resultar em penalidades diversas, incluindo a exoneração a bem do serviço público, conforme preceitua o Regime Jurídico Único. Ou, se assim desejasse, oferecer denúncia de crime contra a administração pública diretamente ao Ministério Público. Sim, porque é disso que trata a acusação.
A postura do “conselheiro” do prefeito é um acinte contra os servidores municipais e contra a categoria dos jornalistas: “ o órgão está cheio de adversários do prefeito, todos concursados e travam as informações”. Questionado pelo comunicador Alexandre Massinha, se seria atitude deliberada, proposital, o empresário foi enfático: “sim! É boicote mesmo. Eles atrapalham os serviços.”
O artifício solerte de esconder-se por trás da generalidade da acusação sem nomes, não atenua o agravo contra a honra, e cabe, no mínimo, uma interpelação judicial para que o Sr. Hamilton Nogueira prove o que diz. Ele acusa um conjunto de servidores de crime contra a administração pública sem provas e sem um mínimo de objetividade. Talvez estimulado pelo recorrente desrespeito aos servidores municipais o “conselheiro” não tenha se dado conta de ter incorrido em três conhecidos artigos do Código Penal onde estão definidos os crimes contra a honra.
Caberá aos colegas que se sentirem atingidos pela acusação do voluntarioso colaborador informal do prefeito, encaminhar uma possível e talvez necessária, interpelação judicial para Vitória da Conquista conhecer provas e autores de atos lesivos à administração do Município.
Não menos grave é a postura do radialista e jornalista Hérzem Gusmão, segundo o mesmo Hamilton Nogueira: “recebemos carta branca do prefeito para anunciar, mostrar tudo que está sendo feito pela administração e a Secom não consegue passar para a população”. Que tipo de relação estaria se estabelecendo entre um ou mais apoiadores e financiadores das campanhas do gestor e a administração municipal? Ao admitir a contratação de um “marqueteiro” pago pelos amigos, que lugar estaria reservado para a Secom e sua titular? A saia justa imposta à competente Lú Macário recomenda ouvir com redobrada atenção, as entrevistas do seu antecessor, o publicitário André Ferraro, ainda nos primeiros meses da gestão.
Não bastasse a larga experiência de comunicador consagrado em décadas de trabalho no rádio conquistense, o prefeito conta com estrutura razoável. Além de secretária e coordenadores nomeados livremente, à sua escolha, dispõe de três agências de propaganda e orçamento próprio para ações de comunicação institucional. Se, a despeito de todas essas condições e da experiência pessoal do prefeito-comunicador, a população não enxerga as ações do governo municipal, a culpa é de servidores?
“A um príncipe é necessário ter o povo ao seu lado”, ensina Maquiavel há mais de 500 anos. Em vez disso, a opção do vitorioso das urnas de 2016 é ouvir os conselhos de endinheirados que se reúnem numa sala de lustres e cristais finos, forrada de tapetes e móveis caros. Ao desconhecer a performance de seus candidatos na eleição passada, fazer ouvidos moucos para os protestos em aparições públicas e para as manifestações de munícipes nas redes sociais, Hérzem escolhe repetir aquele monarca, personagem do dinamarquês Hans Cristian Andersen no conhecido conto “A roupa nova do rei”. No conto, conselheiros fazem o rei acreditar que ele veste um traje belíssimo, quando na verdade está nu. Dias atrás, o prefeito se exibia vestido em paletó e gravata numa pequena rua construída às expensas de empresários felizes com a permuta que lhes rendeu a valorizada área do Clube Social. A poucos metros de uma placa que contrariava a sinalização no asfalto, Hérzem inaugurava sua nova política de comunicação: “agora estou
no YouTube e o Wats App! É bateu-levou. Politicamente, o prefeito está nu…
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