A se comparar os números gerais das pesquisas Origem e Destino de 2007 e de 2017, é possível verificar que não houve mudanças significativas na forma como a região metropolitana se locomove.
Nesses 10 anos, tomando-se apenas as pontas do intervalo, tem-se, grosso modo, que a repartição dos modos de viagem permaneceu praticamente a mesma: 1/3 das viagens foram feitas a pé ou bicicleta, outro terço por transporte coletivo e o terço restante por transporte individual.
Apenas ocorreram mudanças entre os modos.
O destaque, no caso do transporte coletivo, foi para o crescimento do número de viagens do Metrô e da CPTM (dados do modo principal), algo próximo de 2,7 milhões/dia.
Neste período, foram 400 mil viagens/dia a menos de ônibus, queda de 4%.
No caso do sistema de trilhos, a CPTM foi a que mais cresceu proporcionalmente, saltando de 800 mil viagens/dia em 2007 para 1,3 milhões de viagens/dia em 2017, um incremento de 63%. Já o Metrô, passou da OD de 2007 de 2,2 milhões de viagens/dia para 3,4 milhões de viagens/dia em 2017, 55% de aumento.
Apesar de continuar sendo o “patinho feio” dos trilhos em São Paulo, e das constantes falhas ainda prejudicarem demais os usuários, nos dez anos de intervalo da pesquisa houve uma sensível melhora na rede da CPTM. Já o Metrô, nesse período teve uma pequena expansão, mesmo assim, atraiu mais passageiros para o sistema.
ÔNIBUS NÃO RECEBEM INVESTIMENTOS ADEQUADOS:
Enquanto o sistema de trilhos não divide espaço com outros modos, os ônibus sofrem com a persistência do uso das ruas por um número excessivo de carros. A perda de passageiros nesse cenário, portanto, não é uma surpresa.
O equívoco maior está em não enxergar a responsabilidade do poder público nessa situação. Afinal, a garantia do viário, que permitiria a livre circulação dos ônibus, maior velocidade e, portanto, regularidade e tempos menores de viagens, é função da gestão municipal no caso das linhas locais e do Governo do Estado, pela EMTU, das linhas que unem cidades diferentes dentro da região metropolitana.
APLICATIVOS:
Os aplicativos de transporte apresentaram um grande crescimento, mas numa base pequena: de cerca de 100 mil viagens/dia em 2007 para 500 mil viagens/dia em 2017, o que demonstra que é muito cedo ainda para concluir qualquer impacto negativo dessa modalidade na perda de passageiros do sistema por ônibus. A proporção de uma viagem por Taxi para cada três de aplicativos é a grande novidade. É um modo que ainda precisará ser analisado de maneira mais aprofundado, não apenas seus impactos sobre o trânsito e no meio ambiente, como seus possíveis efeitos negativos no transporte público coletivo por ônibus.
NA PRÁTICA, POUCO MUDOU:
O que mais chama a atenção na OD, no entanto, é manutenção do mesmo padrão de divisão modal em dez anos, o que demonstra a ausência de políticas de transporte que estimulassem o uso do transporte coletivo. O fato de o transporte individual manter 33% da divisão demonstra isso.
Segundo o consultor da ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, Eduardo Vasconcellos, em entrevista nesta terça-feira ao Diário do Transporte, a única forma de alterar esse cenário seria com pesados investimentos em infraestrutura de transporte coletivo (como corredores de ônibus e linhas de metrô), ou em políticas de desestímulo ao uso do automóvel (pedágio urbano, combustível caro, etc). Com o transporte individual subsidiado como é hoje, dificilmente a divisão modal irá se alterar no médio prazo, segundo Vasconcellos.
Dados do SIMOB, Sistema de Informações da Mobilidade da ANTP, realizado com dados de cidades brasileiras com população superior a 60 mil habitantes, identificam esse padrão de divisão modal constante há alguns anos, o que demonstra a inexistência de políticas públicas que estimulem o uso de modos de transporte coletivo.
FRETAMENTO EM QUEDA:
A pesquisa OD 2017 do Metrô mostrou também uma surpreendente queda do transporte por fretamento, de 40%. Em 2007 esse modo de transporte fazia 500 mil viagens/dia e caiu para menos da metade em 2017, cerca de 200 mil viagens/dia.
No intervalo entre as duas pesquisas a população da Região Metropolitana de São Paulo passou de 19 milhões em 2007 para 20,8 milhões em 2017, um aumento médio de 9%.
A PÉ E DE BICICLETA:
As bicicletas tiveram um forte crescimento nos deslocamentos no período, 33%, mas numa base pequena: de 0,3 milhões viagens/dia em 2007 passaram para 0,4 milhões viagens/dia em 2017.
O modo andar a pé manteve-se estável no período, com um crescimento de apenas 2%: 12,6 milhões de viagens/dia em 2007, contra 12,8 milhões /dia em 2017.
Os dados detalhados serão fornecidos pelo metrô em janeiro de 2019.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes (Diário do Transporte)