Mais da metade dos 95 pedidos de quebra de sigilo autorizados pela Justiça do Rio na investigação sobre o suposto esquema de “rachadinha” no gabinete do ex-deputado estadual e hoje senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) atinge pessoas que trabalharam diretamente com ele na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj ) ou ocuparam outros cargos na Casa. São 55 funcionários ou ex-funcionários da Alerj que terão seus dados analisados pelo Ministério Público do Rio, entre eles Leonardo Rodrigues de Jesus, mais conhecido como Léo Índio , primo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.
A abertura dos sigilos autorizada pela Justiça abrange o período entre janeiro de 2007 a dezembro de 2018, e mostra ainda que as frentes de apuração sobre as atividades financeiras de Flávio vão além da suspeita de devolução de parte do salário de ex-funcionários na Alerj.
O MP-RJ investiga a origem do dinheiro de empresários e empresas que fizeram negócios imobiliários com o senador — Flávio fez 19 transações de imóveis nos últimos 15 anos. Na lista dos sigilos abertos, há firmas que atuam no setor, além de outras de atividades como informática e venda de perfumes.
Há ainda um terceiro grupo de pessoas ligadas à família mas não necessariamente na Alerj — neste caso estão, por exemplo, a mulher de Flávio, seus pais, dois ex-militares que receberam condecorações do senador e uma ex-secretária parlamentar do atual presidente Jair Bolsonaro.
Flávio Bolsonaro nega que tenha cometido qualquer ilegalidade , seja relativa aos salários de seus funcionários na Alerj ou em suas negociações pessoais de imóveis. O senador reclama que já havia tido seus dados bancários abertos. O Coaf informou sobre movimentações atípicas de Flávio e de seu ex-assessor na Alerj Fabrício Queiroz, mas seu sigilo só foi quebrado, com autorização judicial, em abril deste ano, como O GLOBO mostrou na segunda-feira. O Tribunal de Justiça do Rio e o MP-RJ não comentaram o caso.
A relação de familiares investigados envolve ainda a mulher de Flávio, Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, e seus pais.
Entre os 95 alvos de pedidos de quebra de sigilo fiscal e bancário, oito são pessoas que já trabalharam com Jair Bolsonaro na época em que ele foi deputado federal, como a personal trainer Nathalia de Melo Queiroz, filha de Queiroz, que atendia no horário de expediente na Câmara. Além dela, a ex-mulher de Queiroz Débora Melo Fernandes também teve o sigilo bancário quebrado.
Os dados de Val Meliga, ex-tesoureira do PSL do Rio de Janeiro e atual presidente do diretório municipal do partido na capital, também foram abertos.
O GLOBO não conseguiu contato contato ontem com os demais citados na lista.