Memória Musical: Mazinho Jardim & 4 Homens Sem Conflito fizeram um show histórico em Conquista

Por Plácido Oliveira

Agosto é  um mês de grande expectativa musical para o conquistense, a começar pelo tradicional Festival de Inverno Bahia. Aos mais atentos e adeptos do rock n’ roll, há, ainda, a única oportunidade do ano para conferir de perto o gaitista Mazinho Jardim se apresentando ao vivo. Triplamente pioneiro, foi fundador da banda SS 433, a primeira autoral do gênero na cidade (1982) e atual detentora do “título” de primeira banda de blues da Bahia, cujo único trabalho gravado, o compacto homônimo, foi lançado no mesmo ano de Som na Guitarra (1984), álbum de estreia de Celso Blues Boy, maior nome do gênero no Brasil (sim, o blues na Bahia é conquistense!).

Vivendo há mais de meia década na pequena Vizela, norte de Portugal, sempre menciona a saudade da família e amigos, aproveitando suas férias anuais para atravessar o Atlântico. Desde 2023, reserva tempo e energia para reencontrar mais um velho companheiro: o palco.

Rock Solidário teve início em 2009, quando Mazinho (gaita e voz), Caco Santana (guitarra e voz), Arodir Assis (contrabaixo) e Isaac Dantas (bateria) reuniram, depois de duas décadas de hiato, a SS 433 para um espetáculo beneficente no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, o Rock Contra a Fome. A ideia ressurgiu em 2023, após o trauma mundial da pandemia, sob o título Mazinho Jardim & 3 Homens Sem Conflito – Rock n’ Roll Solidário, acompanhado de Luciano PP (contrabaixo), Camilo Oliveira (guitarra) e Stanley Patez (bateria), que receberam os fonogramas de diversas fases da carreira do artista, incluindo também as bandas On Jack Tall Back e Dragster, e ensaiaram antes mesmo da chegada de Mazinho ao Brasil. Já em 2024, sua performance aconteceu na quarta edição do festival Agosto de Rock, ao lado do eterno parceiro Caco Santana, para celebrar os 40 anos de lançamento do histórico vinil.

Neste ano, os 3 Homens Sem Conflito se tornaram quatro, com a adição do guitarrista Dan Ribeiro, mantendo o mesmo método de trabalho anterior, culminando em um único show, na última sexta (29), no teatro do Centro de Cultura, com entrada condicionada à doação de 2kg de alimentos não perecíveis, destinados ao Programa Bahia Sem Fome, do Governo do Estado.

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Plácido Oliveira e Klebber Santos. Imagem: Memória Musical do Sudoeste da Bahia.

 Convidado a fazer a apresentação de abertura, decidi ressoar a ideia de confraternização, chamando o guitarrista Klebber Santos, líder da conhecida banda Simple Jeans, para um pocket show intimista com apenas cinco canções: três do Distintivo Blue, uma da Simple Jeans e uma homenagem ao nosso saudoso amigo Evandro Correia, que já executo desde 2022: a belíssima faixa Lua de Agosto.

Abrem-se novamente as cortinas vermelhas e o riff de gaita de Bola Gigante volta a ecoar em terras conquistenses. Visível e assumidamente emocionado, Mazinho, sempre sorridente, esbanja seu carisma ao longo de dezesseis faixas, extremamente bem executadas pelos 4 Homens Sem Conflito, ainda mais entrosados que antes. Na lateral do palco, Niel Costa, técnico de som conhecido pela cena rock local e baixista da banda punk Renegados, operava a mesa de som. Todo o evento foi devidamente gravado em som e imagem. Em perfeita sintonia com o público, Mazinho se divertiu, explicou algumas canções, contou histórias e até arrancou risadas ao voltar ao camarim para buscar uma gaita para Blues Subterrâneo, dando à banda a chance de fazer um blues instrumental de improviso, como é de praxe no gênero musical do Mississippi.

A baixa presença de público, por um lado, pode ser justificada pela tardia estratégia de divulgação e, por outro, pela gritante necessidade de conexão entre as gerações: como esperar reconhecimento, pelos jovens roqueiros, a quem abriu as portas na terra da cantoria e do descaso com sua própria história, sobretudo cultural? Quem conhecerá a obra de Evandro Correia daqui a algumas décadas se a nossa época não tomar a iniciativa de preservá-la (e “preservar” pode sim ser sinônimo de “valorizar”) de alguma forma?

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Mazinho Jardim. Imagem: Eduarda França.

A competência da banda de apoio impressionou a todos, sobretudo nas faixas da Dragster, de maior complexidade técnica e arranjos mais diversificados que as da SS 433. Destaque para o baterista Stanley Patez, capaz de reunir precisão, feeling, timbragem e peso com rara maestria. Durante toda a apresentação pude ouvir, da arquibancada, toda sorte de elogios aos músicos, às músicas e ao anfitrião (mais um motivo para refletir sobre o quão absurda foi a não-lotação de um dos mais tradicionais espaços do rock conquistense àquela noite).

Felizmente, como dissemos, tudo foi gravado e poderá ser lançado em breve, quem sabe, nas plataformas de streaming. Aguardemos as próximas movimentações do velho blueseiro, inclusive no final de agosto do ano que vem, no mesmo local. “Vida longa ao rock conquistense!”, disse por diversas vezes, em entrevistas, redes sociais e no palco. Assim seja!

 

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