A guerra na Síria é uma catástrofe que tem se desdobrado lentamente e envolveu quase o mundo todo. Aqui está um resumo de como tudo começou, por que se tornou tão complexo e o que pode acontecer em seguida.
É difícil lembrar hoje, mas a agitação na Síria começou de maneira esperançosa. Em março de 2011, protestos pacíficos eclodiram pelo país, como parte da Primavera Árabe. Os organizadores pediam uma reforma democrática ao presidente Bashar al-Assad, mas o governo respondeu com violência. Depois disso, alguns dos protestantes se uniram a desertores militares para formar o Exército da Síria Livre, um grupo rebelde que queria derrubar o governo. Em 2012, essa revolta armada tinha se tornado uma guerra civil completa.
Como isso passou de guerra civil a crise internacional?
Por um lado, a Síria é fundamental para os jogos de poder regionais do Irã. Então, quando Assad pareceu estar ameaçado, líderes iranianos enviaram o Hezbollah, seus aliados xiitas no Líbano, para ajudar o governo sírio. Ao mesmo tempo, os rivais sunitas iranianos na região – Catar, Arábia Saudita e Turquia entre eles – começaram a enviar armas e dinheiro aos rebeldes anti-Assad, incluindo milícias extremistas. Enquanto isso, a Rússia permaneceu firme em seu apoio de longa data ao governo de Assad. De acordo com um estudioso, a Rússia é responsável por ajudar a montar as forças militares modernas da Síria e Assad é um dos aliados mais fortes do presidente Vladimir Putin no Oriente Médio. A Rússia bloqueou, por diversas vezes, uma ação internacional significativa na Síria através de vetos às propostas do Conselho de Segurança da ONU, e Moscou mudou o curso da guerra a favor de Assad através de uma intervenção militar em 2015.
Como tem sido a vida dos sírios?
Em suma, um pesadelo. Desde o começo da guerra, mais de 465 mil sírios morreram, mais de um milhão foram feridos e 12 milhões – mais do que a maioria da população do país – foram forçados a deixar suas casas. Mais de 5,5 milhões emigraram e se registraram como refugiados.
Por que os Estados Unidos estão envolvidos?
Os Estados Unidos têm evitado um envolvimento maior na Síria, mas têm agido por duas razões principais. Em primeiro lugar, o Estado Islâmico começou a se estabelecer no país em 2013. No ano seguinte, os EUA formaram uma coalizão internacional para lançar ataques aéreos contra o grupo. Eventualmente, enviaram tropas terrestres para a luta e cerca de 2 mil forças dos EUA estão lá no momento. Os Estados Unidos também agiram para punir o governo Assad por usar armas químicas, como sarin e gás de cloro. Em 2012, o ex-presidente Barack Obama chamou o uso de armas químicas de uma “linha vermelha” que levaria à intervenção militar. Mas quando um ataque com gás sarin no subúrbio leste de Damasco, em Ghouta, matou cerca de 1,4 mil pessoas um ano depois, Obama recuou da retaliação.
Em vez de atacar, o Conselho de Segurança da ONU ordenou Assad para que destruísse seu arsenal de armas químicas e assinasse a Convenção de Armas Químicas, que proíbe países de produzirem, estocarem ou utilizarem armas químicas. No entanto, diversos relatos de ataques com armas químicas aconteceram desde então. Um caso particularmente trágico aconteceu em abril de 2017, quando cerca de cem pessoas foram mortas na cidade de Khan Sheikhoun, ao norte do país. A questão foi parar nas manchetes internacionais e chamou a atenção do presidente Donald Trump, que expressou seu horror diante das imagens de “crianças inocentes, bebês inocentes” mortos por um agente neural. Alguns dias depois do ataque, Trump autorizou um ataque com mísseis de cruzeiro numa base aérea síria. Foi o primeiro ataque direto dos EUA ao regime sírio desde o início da guerra.
Mas isso aparentemente não impediu Assad de usar armas químicas. O que acontece depois?
Alguns dias atrás, o governo Assad foi novamente acusado de usar armas químicas contra civis em Ghouta Oriental, uma área controlada por rebeldes fora de Damasco. Quarenta pessoas morreram. Pelo Twitter, Trump ameaçou uma resposta militar, mas não ficou claro quando aconteceria ou como seria realizada. Na manhã de ontem, o presidente twittou que “nunca disse quando um ataque à Síria ocorreria. Pode ser em breve ou não tão cedo”. Não está claro o que vem pela frente, tudo o que se sabe é que não há respostas fáceis. // Washington Post