Mais que uma feira, o Ceasa de Vitória da Conquista reúne diversas pessoas e até famílias que possuem uma história de vida marcada por uma troca de aprendizados e memórias. É este ambiente tão peculiar e movimentado da cidade que traz um reflexo de encontros e desencontros. O simpático comerciante Antônio Morais (58 anos), afirma que escolheu trabalhar no Ceasa por amor.
Nascido no Rio Grande do Norte, o vendedor conta que quando tinha 19 anos, namorava com Valdilene, porém, ela teria de ir embora com a família para Vitória da Conquista. Com isso, terminaram o relacionamento. Assim, ambos continuaram amigos, mas seguiram por rumos diferentes, Antônio casou, teve três filhos e mais tarde acabou por separar-se em 2015. Sabendo disso, Valdilene foi até o Rio Grande do Norte atrás do antigo amor. Apaixonado, Antônio confessa “eu nem pensei duas vezes, deixei a casa paras os meus filhos e vim pra Vitória da Conquista meses depois. Tudo isso para estar com a mulher mais linda que eu já vi” afirma o vendedor.
Valdilene já trabalhava no Ceasa vendendo bolsas e bijuterias. Agora, com oito meses em Vitória da Conquista Antônio, possui uma barraca ao lado da esposa, onde revende acessórios para o frio, compradas em São Paulo. “Aqui eu estou vivendo, já fiz amizades, inclusive com gente da minha terra que mora aqui também. Estou gostando. Por mim pretendo continuar” afirma Antônio, o apaixonado.
Filha de uma artesã e possuinte de 11 irmãos, Maria de Lurdes Gonçalves (52 anos), seguiu os passos da mãe ainda criança, nascida em Ribeirão do Largo, mudou-se para Vitória da Conquista com seus dois filhos e marido. Ela explica “Minha mãe veio primeiro, depois eu vim com meus filhos e esposo. A vida em Ribeirão antigamente era muito difícil, hoje em dia está melhor por lá. Antes não havia escolas e transporte, ai mudamos pra Conquista, para tentar melhorar a vida, e deu certo”.
Artesã de objetos e utensílios criados da argila, Maria conta ter aprendido tudo com a mãe, (que beira os 80 anos) e sua tia que também mora em Vitória da Conquista e trabalha no mesmo ramo. Juntas, as três cuidam de uma barraca no Ceasa e de uma espécie de depósito onde guardam as mercadorias produzidas e compradas para revenda. A vendedora diz que há 40 anos trabalha nesta área artesanal, e há 20 ocupa um espaço dentro do Ceasa, sendo que já mudou várias vezes o espaço da barraca até encontrar uma área fixa. Maria diz que acha sua profissão muito divertida, além disso, conhece muitas pessoas que trabalham ali e os considera bastante, ”aqui todos são como uma grande família, pois as pessoas que trabalham no Ceasa ficam aqui o dia inteiro” diz a artesã.
Segundo Maria o único arrependimento que possui em relação ao Ceasa é pela falta de segurança, pois em todos os anos que permanece ali, já viu diversas situações de assalto, tendo muitas vezes de fechar a barraca mais cedo para não correr riscos. Ela afirma “teve uma vez que roubaram uma barraca vizinha na luz do dia e levaram tudo! A minha tia também foi assaltada recentemente”, ao contar estes casos, Maria desabafa “às vezes gostaria de ir embora do Ceasa justamente pela falta de segurança, mas não tem jeito”.
Outro caso parecido é o da Lia Matias (53 anos), moradora do bairro Santa Helena, e vendedora de produtos naturais no Ceasa desde os seus seis anos, conta que no início acompanhava sua mãe nas vendas e a observava, foi assim com ares de antropóloga que descobriu a finalidade de cada erva medicinal que vende e a profissão de toda uma vida “sempre gostei de trabalhar com isso, foi uma escolha minha” diz Lia.
A vendedora revela ter escolhido o Ceasa como cenário de suas vendas por ser o coração da cidade, sendo o local principal em que há um grande movimento de todo tipo de pessoas, e afirma “gosto deste trabalho porque ajudo as pessoas, e elas valorizam o meu trabalho”. Com um largo sorriso ela diz “não gosto de ficar parada. Enquanto aguentar e ter forças eu vou continuar”.
A cada esquina, são visíveis os inúmeros trabalhadores, e os mais distintos produtos que vão de hortaliças ao jeans dentro e nas extremidades do Ceasa. Além de toda essa riqueza de produtos e detalhes, o Ceasa é também um point para encontros, reencontros e de tradições sendo a união e amizade uma característica marcante de todos que ali trabalham e tiram seu sustento. Para essas pessoas o Ceasa é mais que uma feira, mais que um simples espaço, ele age como um lar, movimentado, cheio de confusão e ao mesmo tempo animado, repleto de cor e amor: uma grande família.