Por Cora Rónai
O PT não está sozinho na criação de Bolsonaro; o PSDB, que derrete a olhos vistos, também tem culpa
Eduardo Jorge, vice de Marina, ao HuffPost: “O Bolsonaro é uma obra do Lula. A pregação do ‘nós contra eles’ durante anos a fio levou o País a essa divisão extremada e ao naufrágio econômico e social do governo do PT e do PMDB. Com uma pregação odiosa, o Lula insultou seus adversários políticos durante 10, 12 anos. Em uma democracia, é muito importante que você respeite o adversário. Demonizar e desejar a destruição do adversário leva a uma polarização tremenda, e o adversário reage. Então o Bolsonaro e o ressurgimento da direita autoritária no Brasil são resultados desses anos de governo do PT”.
Christian Lohbauer, vice de João Amoêdo, ao Metrópoles: “Bolsonaro é resultado do modelo (político) que o PT criou. Ele é uma consequência do PT.”
Bolsonaro é uma consequência óbvia, quase previsível, do discurso de ódio de Lula: uma consequência óbvia, e quase previsível, do antipetismo que este discurso gerou. Aliás, antipetismo, como já escrevi uma vez, é palavra da moda, e é de grande ajuda para o PT continuar na sua posição de vítima. Os demais partidos têm oposição, coisa normal no mundo da política; o PT não, o PT tem “antipetismo”, essa síndrome que acomete pessoas más que não querem ver pobres viajando de avião.
A palavra não é inteiramente gratuita, porém. Nenhum partido grande é detestado com tanta intensidade pelos eleitores, não só pela empáfia, pela corrupção e por ter sido governo pelo tempo da memória recente, mas também porque nenhum outro é tão coeso ou tem uma militância tão visível. Só se detesta o que é discernível e relevante. Os demais partidos grandes não têm consistência, são meros ajuntamentos de oportunistas, reunidos pelos piores motivos, que saltam de legenda em legenda ao sabor das eleições.
Mas o PT não está sozinho na criação de Bolsonaro; o PSDB, que finalmente derrete a olhos vistos, também tem culpa nessa gestação. O partido traiu os seus eleitores de todas as maneiras. A mais grave talvez tenha sido abdicar do seu papel de oposição — assim que se tornou oposição.
Quando Lula se elegeu em 2002, com 61% dos votos, os seus quadros pusilânimes não entenderam que representavam os outros 39%. Não defenderam o governo de Fernando Henrique Cardoso das constantes diatribes de Lula, não defenderam as privatizações, sequer se defenderam do discurso petista que colava no partido o rótulo de “direita”, quando não “extrema-direita”.
O PSDB não entendeu que tinha eleitores, e não militância; não tinha a proteção da camada de teflon da ideologia. O que poderia ter se firmado como saudável opção de centro para quem não queria o PT virou massa amorfa com o correr dos anos, indistinguível de outras siglas de origens menos bem intencionadas. A permanência de Aécio Neves entre os quadros, depois do escândalo das gravações, acabou de vez com a sua reputação.
Agora, olhando o desastre nos olhos, tentamos nos agarrar aos últimos fiapos de esperança de um primeiro turno condenado, como se pudéssemos desfazer em três dias as teias de ódio, de ignorância e de desamor ao país que levaram tantos anos a se formar.