No pronunciamento oficial desta segunda-feira (29), às vésperas do Dia do Trabalhador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reacendeu um dos debates mais importantes e urgentes do mundo do trabalho: a redução da jornada semanal sem redução de salários. Segundo ele, o modelo atual de escala 6×1 (seis dias trabalhados para apenas um de descanso) precisa ser revisto.
“Está na hora de o Brasil dar esse passo ouvindo todos os setores da sociedade para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”, disse Lula, em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV.” — disse Lula, durante o pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV.
A fala não foi por acaso. Nas últimas semanas, Lula se reuniu com lideranças de oito centrais sindicais, que entregaram ao presidente uma carta com pautas prioritárias da classe trabalhadora. Entre os principais pontos: a redução da jornada, o fim da escala 6×1 e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Lula, que historicamente se posiciona a favor do fortalecimento dos direitos trabalhistas, deu um sinal claro de que o tema está, sim, na pauta do governo. E a repercussão já começou: nas redes, muitos trabalhadores celebraram o gesto, enquanto setores empresariais se mostram reticentes, alegando que mudanças como essa trariam impacto nos custos das empresas.
Jornada menor, vida maior?
A discussão não é nova, mas está ganhando fôlego em diversos países. Espanha, Islândia e Reino Unido já experimentaram ou estão experimentando modelos de semana de 4 dias de trabalho, com resultados positivos em produtividade e bem-estar. No Brasil, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) propondo a redução da jornada para 36 horas semanais — algo que pode abrir uma janela concreta para mudanças estruturais.
Por aqui, ainda enfrentamos a normalização de longas jornadas, baixos salários e pouca valorização do tempo livre. A escala 6×1, em muitos casos, acaba sendo sinônimo de esgotamento físico e mental. E em tempos em que se fala tanto de saúde mental, equilíbrio e qualidade de vida, não dá mais pra fingir que trabalhar seis dias pra descansar um é aceitável.
O que esperar daqui pra frente?
O gesto de Lula não significa uma mudança imediata, mas é um movimento político importante. Traz o debate para o centro, pressiona o Congresso e dá fôlego às pautas que estavam sendo engavetadas há anos. Também mostra sintonia com os sindicatos e com a base trabalhadora — algo estratégico num país que se aproxima de mais um ciclo eleitoral municipal.
Seja por pressão social ou decisão política, a redução da jornada de trabalho vai continuar no radar. E o Brasil precisa decidir de que lado da história quer estar: o que defende o lucro a qualquer custo, ou o que entende que trabalhar menos pode significar viver mais — e melhor.