
Foto: Fabiano Rocha/Divulgação
Uma Operação Policial da Polícia Civil do Rio de Janeiro ocorrida nesta quinta-feira (06) entra para a história como a mais letal de todos os tempos no estado. A ação, autorizada previamente pelo Ministério Público, foi coordenada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), com apoio de outras unidades do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), do Departamento Geral de Polícia da Capital (DGPC) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE).
A Operação deixou 25 pessoas mortas, entre estas um policial, com tiro na cabeça, e provocou um intenso tiroteio no início da manhã desta quinta-feira (6). Seis pessoas foram presas e armas foram apreendidas.
Durante a operação, não havia movimentação de moradores nas ruas e vielas do Jacarezinho.
A Operação Exceptis investiga o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, como assassinatos, roubos e até sequestros de trens da Supervia. A polícia afirma que o tráfico da região adota táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”.
O Jacarezinho é considerado uma base do Comando Vermelho, a maior facção do tráfico de drogas em atividade no Rio. A comunidade é predominantemente plana, repleta de ruelas e cercada de barricadas instaladas pelo crime — o que dificulta o acesso de blindados, por exemplo.
Segundo a Polícia, até 15h30, a operação tinha apreendido:
- 15 pistolas
- 6 fuzis
- 1 sub-metralhadora
- munição antiaérea
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Detalhe da munição anti-aérea apreendida no Jacarezinho — Foto: Eliane Santos/G1
A ação envolveu:
- 250 polícias
- 4 blindados
- 2 helicópteros
Escutas identificaram 21 criminosos
Com a quebra dos dados telemáticos autorizada pela Justiça, foram identificados 21 integrantes do grupo criminoso, todos responsáveis por garantir o domínio territorial da região com utilização de armas de fogo.
A polícia identificou uma estrutura típica de guerra provida de centenas de “soldados” munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo tipo de acessórios militares.
Pelas redes sociais, moradores relataram mais mortes que as computadas, além de corpos no chão, invasão de casas e celulares confiscados. À tarde, eles chegaram a fazer um protesto na comunidade. A polícia negou que fez qualquer execução durante a operação.
“Se alguém fala de execução nessa operação, foi no momento em que o policial foi morto com um tiro na cabeça “, disse o delegado Rodrigo Oliveira, da Core.
Dois passageiros do metrô foram baleados dentro de um vagão da linha 2, na altura da estação Triagem, e sobreviveram. Um morador foi atingido no pé, dentro de casa, e passa bem. Dois policiais civis também se feriram.
Vídeos registraram o som de rajadas, e explosões de bombas foram registradas em diferentes pontos da favela (veja vídeo abaixo).
Um homem foi baleado na Estação de Metrô de Triagem. @metro_rio @agetransp @jornalodia @jornalextra @bandnewsfmrio @OGlobo_Rio @sbtrio @recordtvrio @alertario24hrs @radardabrasil @NiteroiInformes @baixadanaweb @legal_rj pic.twitter.com/3biVaTS84j
— Informações RJ (@Informacoes_RJ) May 6, 2021
Ação é a que resultou em mais mortes no Estado no período democrático, segundo dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF)
Nota do Ministério Público
O MPRJ informa que a operação realizada nesta data na comunidade do Jacarezinho foi comunicada à Instituição logo após o seu início, sendo recebida às 9hs.
A motivação apontada para a realização da operação se reporta ao cumprimento de mandados judiciais – processo 0158323-03.2020.8.19.0001 – de prisão preventiva e de buscas e apreensão no interior da comunidade, sabidamente dominada por facção criminosa.
A Polícia Civil apontou a extrema violência imposta pela organização criminosa como elemento ensejador da urgência e excepcionalidade para realização da operação, elencando a “prática reiterada do tráfico de drogas, inclusive com a prática de homicídios, com constantes violação aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes e demais moradores que residem nessas comunidades” como justificativas para a sua necessidade. Indicou, por fim, a existência de informação de inteligência que indicaria o local de guarda de armas de fogo e drogas.
Nesse contexto, importante esclarecer que a realização de operações policiais não requer prévia autorização ou anuência por parte do Ministério Público, mas sim a comunicação de sua realização e justificativa em atendimento aos comandos expressos do Supremo Tribunal Federal, a partir do julgamento da ADPF 635-RJ.
O MPRJ, desde o conhecimento das primeiras notícias referentes à realização da operação que vitimou 24 civis e 1 policial civil, vem adotando todas as medidas para a verificação dos fundamentos e circunstâncias que envolvem a operação e mortes decorrentes da intervenção policial, de modo a permitir a abertura de investigação independente para apuração dos fatos, com a adoção das medidas de responsabilização aplicáveis.
Informa, ainda, que o canal de atendimento do Plantão Permanente disponibilizado pelo MPRJ recebeu, nesta tarde, notícias sobre a ocorrência de abusos relacionados à operação em tela, que serão investigadas. Cabe ressaltar que, logo pela manhã, a atuação da Coordenação de Segurança Pública, do Grupo Temático Temporário e da Promotoria de Investigação Penal teve início a partir do conhecimento dos fatos pela divulgação na imprensa e redes sociais.
Equipe de Promotores de Justiça acompanha a situação no momento, não havendo ainda confirmação de retomada da estabilidade da segurança no local.
O MPRJ reitera a disponibilidade dos canais de comunicação com o Plantão Permanente (21 2215-7003, telefone e Whatsapp Business) para a apresentação de informações e o oferecimento, por parte da população e sociedade civil em geral, de registros audiovisuais que possam contribuir para a regular apuração dos fatos e identificação de vítimas e familiares que possam vir a colaborar com as investigações.
Por fim, o MPRJ reafirma que todas as apurações serão conduzidas em observância aos pressupostos de autonomia exigidos para o caso, de extrema e reconhecida gravidade.
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Polícia faz operação no Jacarezinho — Foto: Reprodução/TV Globo
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Homens armados tentam fugir durante operação da polícia em telhado no Jacarezinho, Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução/TV Globo
Com informações do G1 e ESTADÃO