O Ministério Público estadual denunciou nesta quarta-feira, dia 20, os policiais militares Emerson Severo da Silva e Neilo Carlos Souza Silva por homicídio qualificado, por motivo torpe e sem possibilitar defesa da vítima, no caso, o jovem cigano Lindomar Santos Matos. Conforme a denúncia, oferecida pela 4ª Promotoria de Justiça de Brumado e pelo Grupo de Atuação Especial Operacional de Segurança Pública (Geosp), o crime ocorreu em 30 de julho de 2021, no Distrito de Lagoa Grande, no município de Aracatu, e teria como motivação vingar a morte de dois policiais, ocorrida em 13 de julho de 2021 no Distrito de José Gonçalves, zona rural do município de Vitória da Conquista.

Soldado Robson Brito de Matos e Tenente Luciano Libarino Neves foram assassinados em 13 de julho em Vitória da Conquista | Fotos: arquivo pessoal
As investigações apontaram que Lindomar foi encurralado em um cômodo externo de um bar localizado na BA-142 e foi executado com dez disparos de fuzil, sem qualquer chance de defesa, alguns deles efetuados à curta distância. Segundo a denúncia, a vítima de 15 anos fugia desde a noite anterior de uma perseguição policial à sua família e não consta nenhum registro que o adolescente tenha cometido qualquer delito que justificasse a busca policial contra ele, que chegou a contar com quatro guarnições. A perseguição teria começado após um residente negar abrigo ao jovem cigano e chamar a polícia, evidenciando que os policiais já sabiam previamente a identidade do rapaz.
A denúncia se baseia em laudos periciais que demonstram que a quantidade de disparos efetuados pelos policiais militares (eles alegaram um total de quatro tiros à distância) e o local em que a vítima foi atingida divergem com o alegado por eles. A perícia indica que o jovem recebeu dez tiros, sendo que pelo menos dois foram pelas costas e que houve alteração da cena do crime com a retirada do corpo de Lindomar, já sem vida, para forjar uma falsa prestação de socorro em hospital da região. “Os denunciados tinham a intenção clara e evidente de executar a vítima, considerando a desproporção da força utilizada pelos agentes públicos contra o adolescente, os quais deveriam saber dosá-la, se realmente houvesse a intenção de apenas se defender. Ademais, estavam em superioridade numérica e portavam armas não letais capazes de imobilizar a vítima, facilitando a sua captura, sem alcançar o resultado morte”, destaca a denúncia.

Da esquerda para a direita, na primeira fileira: Dalvan, Solon, Morais e Bruno; na fileira de baixo, no mesmo sentido: Lindomar, Ramon, Arlan e Marlon. Os oito são irmãos e foram mortos | Fotos: Reprodução / Redes sociais
No total, oito ciganos da mesma família foram mortos em confrontos com a PM, após os assassinatos do soldado Robson Brito de Matos, 30, e do tenente Luciano Libarino Neves, 34, em 13 de julho, no município de Vitória da Conquista (BA). Ambos eram lotados na 92ª CIPM Rural (Companhia Independente de Polícia Militar) e estavam atuando à paisana como P2, policiais que são credenciados no Comando de Operações de Inteligência da corporação e fazem investigações.
Sobre todas as ocorrências, a PMBA declarou que ocorreram em confronto e que os baleados foram socorridos, mas não resistiram e que as armas dos PMs foram encontradas com “os suspeitos que reagiram à ação da PM. “Salientamos que a Corporação não coaduna com desvios de conduta e realiza a apuração de todas as denúncias que são formalizadas através da Corregedoria e da Ouvidoria da Instituição”, declarou em nota.