Perguntas constrangedoras e toques ‘anormais’: entenda as denúncias de abusos sexuais contra ginecologista na Bahia
Do G1/BA – “Você quer que eu te masturbe?”, “Você sabe onde é o seu ponto G?” e “Você já fez sexo anal?”. Essas foram algumas das perguntas que o ginecologista Elziro Gonçalves de Oliveira, de 71 anos, teria feito para, ao menos, 10 pacientes, durante atendimento médico em Salvador.
Elas procuraram a Polícia Civil e fizeram denúncias contra o profissional, que agora é investigado. Os casos também acompanhados pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) e pelo Conselho Regional de Medicina (Cremeb).
A primeira denúncia foi revelada no dia 19 de julho, no programa Bahia Meio Dia, da TV Bahia, afiliada da TV Globo. A vítima foi uma administradora de 43 anos, que denunciou o ginecologista por assédio durante uma consulta no centro médico do plano Caixa Assistência dos Empregados do Baneb (Casseb).
O caso aconteceu há cerca de um mês, quando a mulher procurou atendimento após sentir dores causadas por uma infecção urinária. Desde então, outras pacientes criaram coragem para fazer denúncias.
Uma advogada que representa algumas das mulheres que registraram boletim de ocorrência conta que já foi procurada por 17 supostas vítimas. Algumas delas se consultaram com Elziro Gonçalves de Oliveira há cerca de 10 anos, mas ainda guardam os traumas.
Quando surgiram os primeiros casos, o ginecologista falou com a equipe da TV Bahia ao telefone e negou as acusações. Procurado outras vezes, a partir do surgimento de outros casos, ele preferiu não comentar mais o assunto.
1. Quais os abusos denunciados?
Ao menos 10 mulheres procuraram a Polícia Civil com depoimentos semelhantes, relatando abusos sexuais praticados pelo ginecologista Elziro Gonçalves de Oliveira. Segundo as vítimas, o profissional as tocou de forma diferente do habitual, realizou procedimentos sem luvas e fez perguntas como “Você quer que eu te masturbe?”, “Você sabe onde é o seu ponto G?” e “Você já fez sexo anal?”.
Duas mulheres, que preferiram não revelar a identidade, se emocionaram ao contar as seguintes situações:
Relato 1: A paciente disse que chegou ao consultório e entrou no banheiro para trocar de roupa. O ginecologista teria dito: “Engraçado, né menina? Tem paciente que troca de roupa na minha frente. Você entrou no banheiro, ficou com vergonha, foi?”. Após o procedimento, o médico teria perguntado se ela tinha namorado e se o casal se masturbava. “Quantos centímetros tem o pênis do seu namorado? Porque não é qualquer homem que vai satisfazer você, não”, teria dito o profissional para a paciente.
Relato 2: Outra mulher contou que durante o atendimento, Elziro Gonçalves de Oliveira teria perguntado se ela namorava. Após a resposta negativa, o ginecologista teria falado: “Mas como é que uma mulher bonita e gostosa como você não tem namorado?’ Ele também perguntou: ‘Você já fez sexo anal?. Ao ouvir outra negativa, o profissional teria perguntado: “Você sabe onde é o seu ponto G?” Você quer que eu te masturbe?”. Assustada com a situação, a paciente diz ter ficado “muda e sem reação”.
2. Quando e onde aconteceram as consultas?
Os casos denunciados para a Polícia Civil aconteceram em Salvador. Algumas das consultas aconteceram no centro médico do plano Caixa Assistência dos Empregados do Baneb (Casseb), no Parque Bela Vista, e outras na clínica CAM, que fica no bairro do Itaigara.
No primeiro local, há relatos de atendimentos que aconteceram há cerca de 10 anos e outros recentes, há um mês, como a da administradora que iniciou as denúncias.
3. Os casos prescreveram?
A advogada Daniela Portugal explicou que não há como saber se os casos citados prescreveram, porque isso depende de como o Ministério Público e a Justiça vão identificar o crime.
“Ainda assim é importante que todas as mulheres que passam por situações semelhantes notifiquem os fatos, porque isso vai gerar provas no processo”, pontuo.
4. O que alegam as vítimas para as denúncias tardias?
As justificativas são várias. Algumas das denunciantes afirmam que ficaram com medo de não acreditarem nelas. Outras relataram que ficaram desconfortáveis com os toques, mas não sabiam, se de fato, eram abuso ou se elas tinham entendido errado.
Em uma das situações, uma paciente contou que chegou a conversar com o companheiro e, ele não acreditou no assédio. “Ele disse para mim que se aconteceu pela segunda vez é porque eu tinha dado liberdade pra isso”.
A mulher acrescentou que o ginecologista ligou para ela e perguntou o motivo dela ter deixado de fazer as revisões com ele. “E eu disse para ele: ‘Não volto para revisão porque o senhor não teve um comportamento correto comigo’”.
5. Quais os posicionamentos da Polícia Civil, MP e Cremeb?
Os inquéritos foram instaurados na 6ª Delegacia Territorial (DT) de Brotas para apurar os casos. As vítimas prestaram depoimentos na unidade policial acompanhadas de advogados. A Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento e que o ginecologista ainda não foi ouvido.
A promotora de Justiça, Sara Gama, afirmou que acompanha as investigações da Polícia Civil, para coletar provas e ter elementos para oferecer denúncia.
“Essa situação aconteceu por se tratar de mulheres que vão até o profissional acreditando na credibilidade e acabam sofrendo uma violência sexual. A gente abriu o procedimento e acompanhamos junto com a polícia o desenrolar da coleta das provas”, explicou.
Já o Cremeb disse que os processos tramitam em sigilo e se as denúncias forem comprovadas, as sanções podem ir de advertência até cassação do exercício profissional.
6. O que dizem as clínicas?
Em nota, o Casseb afirmou que uma comissão foi criada para investigar as acusações contra o médico e o resultado será entregue às autoridades. O ginecologista foi afastado das atividades.
O grupo CAM informou que tem canais de comunicação para escuta ativa e as denúncias são todas respondidas de forma sigilosa, diretamente ao paciente reclamante. Disse ainda que repudia veementemente toda forma de assédio ou conduta desrespeitosa ou inadequada.
Fonte: G1/BA