Na inauguração da Policlínica Regional em Juazeiro (BA) o governador da Bahia, Rui Costa, aproveitou os holofotes da imprensa para destilar duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro pelo “bolo” dado ao ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian.
“O Presidente da República, que deveria cuidar de gerar emprego no Brasil, de cuidar da economia, fazer parceria com outros países do mundo para gerar investimentos (…) Veio o Chanceler da França. o cabra saiu lá da Europa, pegou o avião, veio para o Brasil para representar o governo francês, pra discutir o intercâmbio comercial com o Brasil, tinha uma audiência marcada com o Presidente da República, e sem explicar a razão, o presidente mandou cancelar dizendo que tinha um compromisso inadiável, e no mesmo horário que ele tinha audiência com o Ministro francês, ele foi cortar cabelo e gravar vídeo para a internet”, queixou-se o governador da Bahia.
Em seguida Rui Costa deslegitimou a eleição de Bolsonaro na Bahia. “Eu não votei, a Bahia não votou, ele só ganhou em 4 dos 417 municípios, mas é o presidente que o povo brasileiro elegeu, infelizmente”, disparou.
Rui afirmou ter dito ao Ministro da França que o presidente Bolsonaro deliberadamente não quis recebê-lo. “Não leve o presidente em consideração, está tendo algum problema com ele”, disse Rui ao Ministro da França.
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REPERCUSSÃO NA IMPRENSA INTERNACIONAL
Le Drian foi primeiro membro do alto escalão do governo do presidente Emmanuel Macron a visitar o Brasil desde a posse de Bolsonaro.
“Jair Bolsonaro cancela um encontro com Jean-Yves Le Drian por causa de um corte de cabelo”, noticiou o jornal Le Monde.
“Na diplomacia, Bolsonaro prefere a provocação, mas, em um confronto, o chefe de Estado brasileiro privilegia a humilhação do adversário”, disse o jornal, que lembrou que o governo Macron vem pressionando o Brasil em questões de preservação do meio ambiente, ainda mais depois da assinatura do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
Essa pressão vem irritando Bolsonaro, que já declarou aos europeus que não pretende aceitar “lições” de países europeus em matéria de preservação do meio ambiente.
“Ao aparecer publicamente no cabeleireiro em vez de ao lado de um dos pesos-pesados do governo francês, Jair Bolsonaro reafirma seu soberanismo tanto quanto seu desprezo pelo discurso moralizador de Paris em relação ao meio ambiente”, escreveu o Le Monde.
Já o jornal de economia Les Echos abordou o gesto do presidente brasileiro em uma reportagem com o título “Bolsonaro despreza Le Drian em Brasília”. Segundo o diário, a comunidade empresarial francesa com negócios no Brasil vinha pedindo que Paris enviasse algum ministro de destaque para visitar o país sul-americano após a posse de Bolsonaro.
O jornal destacou ainda que mil grandes empresas francesas têm sede no Brasil e entrevistou Fréderic Junck, presidente do Conselho de Comércio Exterior da França (CCEF) no Brasil, que disse que o “encontro perdido não agregou valor para nossas relações”.
O cancelamento do encontro em cima da hora, seguido pelo gesto de aparecer cortando cabelo na internet, também repercutiu negativamente em reportagem do site da revista ultraconservadora Valeurs Actuelles, que ideologicamente compartilha várias das ideias do círculo de Bolsonaro.
A revista costuma publicar reportagens sobre supostas conspirações do bilionário George Soros (um alvo corriqueiro da extrema direita mundial) e textos criticando ativistas ambientais.
“Algo jamais visto! Em matéria de diplomacia impulsiva, o presidente Jair Bolsonaro deve ultrapassar Donald Trump”, publicou a revista, que classificou a coisa toda como um “escândalo diplomático em Brasília”.
“O encontro foi cancelado pelo próprio Bolsonaro no último momento. Motivo: ‘um problema de agenda’. Mas isso não impediu que o presidente brasileiro aparecesse no Facebook cortando o cabelo…”
“‘Romper com os códigos da diplomacia do jeito que Trump faz com a Coreia do Norte é uma coisa. Já a falta de educação e de cortesia em relação a uma grande nação como a França nos deixa mortificados’, disse um diplomata brasileiro”, destacou a revista
“O gesto teatral brasileiro teve ainda um prelúdio inacreditável quando Bolsonaro abandonou qualquer discrição e declarou que Le Drian não ousaria lhe falar grosseiramente sobre questões ambientais”, destacou a revista.
Por fim, a publicação francesa lembrou que mais cedo no mesmo dia Bolsonaro havia citado incorretamente o cargo do ministro do Exterior francês: “Contra todas as probabilidades, ele nomeou (Le Drian) como primeiro-ministro francês (sic).”
Com informações da Deutsche Welle – emissora internacional da Alemanha que produz jornalismo independente em 30 idiomas.