O que acontece quando o invisível em nós ganha forma?
Por Caique Santos – Thelma não é apenas um suspense psicológico. É uma obra lenta, hipnótica, construída em camadas que revelam mais sobre nós do que sobre a personagem-título. Para quem é neurodivergente, ele toca em lugares profundos — no modo como sentimos o mundo e como, muitas vezes, precisamos nos proteger da própria intensidade do sentir.
Thelma manifesta seus desejos de forma inconsciente, alterando a realidade à sua volta. O filme, então, propõe uma pergunta silenciosa: será que também temos esse poder? Seriam nossos pensamentos e intenções forças capazes de moldar o mundo ao nosso redor?
Logo no início, vemos Thelma em uma aula em que o professor aborda um tema popular da física quântica, o experimento da dupla fenda, quando partículas se comportam como ondas quando não observadas — mas colapsam em partículas quando alguém as observa. Ou seja: a consciência interfere na realidade. Isso nos leva a pensar que a atenção e o foco do observador podem, de alguma forma, influenciar os acontecimentos. E aí entramos no campo da co-criação, um tema que está relacionado com a “doença” de Thelma.
O filme parece dialogar com essa ideia: o desejo contido, quando liberado, é energia. E energia se move, se manifesta, se transforma em ação ou fenômeno. A oração, por exemplo, pode ser vista como uma forma de intenção pura — uma conexão entre o interno e o externo, entre o invisível e o visível.
Existe um significado especial para os autistas neste filme, pois também experimentam o mundo com intensidade. Os estímulos sensoriais muitas vezes nos (autistas)sobrecarregam. E, após dias socialmente desgastantes, o corpo responde com shutdown: um estado de recolhimento absoluto. Thelma também se encolhe. Ela teme seu próprio poder, suas emoções, seu desejo. Sua trajetória é uma metáfora sobre repressão e libertação. Sobre o quanto nos é negado sentir com profundidade — especialmente se isso não se encaixa nas normas da sociedade, da religião, ou da família.
No fim, Thelma nos diz algo sutil, mas transformador: que talvez sejamos feitos de matéria e intenção. Que há um espaço entre ciência e espiritualidade onde nossos desejos, nossos medos e nossos dons se entrelaçam. E que aceitar a própria força — mesmo que ela assuste — é um passo necessário para deixar de viver pela metade.
O filme está disponível na Prime Vídeo.