Um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira, a atriz Eva Wilma morreu neste sábado, aos 87 anos. Ela estava internada no hospital Albert Einstein desde abril tratando um câncer de ovário. A atriz havia sido internada em janeiro deste ano com pneumonia.
VIlma não apenas criou uma sólida carreira artística, com papéis marcantes no teatro, cinema e televisão – em quase todas suas escolhas, havia um forte componente político e social, ciente de que a arte não serve somente como divertimento, mas também como fator educativo para a alma. Já se tornou clássica, por exemplo, a foto feita em 1968, durante a passeata dos 100 mil ocorrida nas ruas do Rio de Janeiro e que cobrava uma atitude mais acertada do governo militar diante dos problemas estudantis – e, por extensão, do próprio País.
A imagem revela uma poderosa linha de frente formada por atrizes do primeiro escalão, com Eva, Odete Lara, Norma Bengell, Tônia Carreiro e Cacilda Becker caminhando, todas de braços dados. Havia outros artistas de destaque (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Clarice Lispector, Ferreira Gullar), mas a força representada por aquelas mulheres traduzia o grau de indignação. “Estávamos sufocados pela censura, que não permitia que se falasse do que se passava nem com o uso de metáforas”, relembrou ela, anos depois.
Na década seguinte, ainda sob o regime militar, Eva e Carlos Zara, seu segundo marido, lideraram um grupo de artistas que lutavam pela anistia política. Juntos, conseguiram mais de 700 assinaturas em documento entregue aos líderes do então partido governista, Arena.
Eva dizia também que eram momentos de amadurecimento e de conscientização pessoal, o que nortearia sua carreira. Foi o que a motivou a novamente enfrentar a censura, dessa vez em 1970, quando, ao lado do primeiro marido, John Herbert, produziu a montagem nacional de Os Rapazes da Banda, peça de Mart Crowley que retratava a vida comum de amigos homossexuais masculinos.
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