Por Luana Lopes*

No clima da clássica ‘Sessão da Tarde’
Lançado em abril deste ano pela Netflix, Amor e Monstros, é um sucesso de público e crítica com uma clássica receita pop. Confesso, particularmente, que torceria o nariz para o filme, não fosse a recomendação de um amigo. E que grata surpresa! Despretensioso, o enredo (Matthew Robinson e Brian Duffield) aposta na clássica (ou batida, para os haters) jornada do herói.
O roteiro conjuga uma série de referências aos filmes da verdadeira Sessão da Tarde, aquela dos anos 80 e 90. Se você é apaixonado por Cinema e até hoje se divide entre ‘Os Goonies’ e ‘Conta Comigo’, vai desejar um bolo de chocolate acompanhado de Coca-Cola quando tocar Stand By Me.
O elenco não conta com medalhões, é composto por atores habituais do Cinema de aventura produzido fora do mainstream Marvel/DC. Além de seguras, as atuações atingem o objetivo de causar a necessária empatia pelas personagens.

Dylan O’Brien: anti herói em um clima apocalíptico
A “jornada do herói” consiste, basicamente, em nos apresentar uma personagem que enfrenta uma série de provações até alcançar o seu objetivo, a recompensa final. Aqui, Joel Dawson (Dylan O’Brien) reside numa das colônias de sobreviventes formadas numa Terra pós-apocalíptica, povoada por criaturas mutantes. Sua recompensa seria o reencontro com Aimee (Jessica Henwick), namorada dos tempos de escola que vive em um abrigo subterrâneo situado a vários dias de viagem. Pronto, estabelecidos os pontos inicial e final do tabuleiro, a jornada do nosso herói perpassará pelos monstros colocados ao longo do caminho.
Confesso que tenho preguiça dos filmes de aventura e de ficção que pesam a mão nos efeitos visuais. Esse não é o caso, os mutantes de Amor e Monstros não enchem os olhos ou tampouco as cenas de ação nos fazem pular da cadeira. A direção opta por construir o protagonista através da aventura inerente à sua trajetória, permitindo que o filme desenvolva-se de maneira muito fluida. Joel é medroso, jamais um guerreiro matador de monstros, apenas um cara que se viu surpreendido quando distinguiu viver de sobreviver. Em tempos de pandemia (real, não cinematográfica), nosso Ferris Bueller não pode matar aula para “curtir a vida adoidado”. Ele precisa sair da caixinha porque Aimee significa muito mais do que não estar sozinho. A possibilidade de ser amado, e viver como alguém que existia antes do isolamento, justificam arriscar a sobrevivência contra insetos mutantes.
Se, em nosso 2021, as redes sociais bastam para sabermos a vida amorosa, profissional e intelectual de todos, a nostalgia da obra aqui comentada nos presenteia com a dúvida acerca do cotidiano de Aimee. A gente se pergunta: ela o receberá da maneira como ele imagina? Ela corresponderia o amor quase suicida de Joel depois de tanto tempo? Essas indagações em nada diminuem nossa torcida por Joel enquanto ele escreve (literalmente, com ilustrações num caderninho!) sua epopeia. No fim das contas, esse “final feliz” importa bem menos que etapas da história a ser contada.
*Luana Lopes é jornalista formada na UESB, cinéfila e colabora com o Blog do Caique Santos