Pesquisa da Uesb avalia o potencial de contaminação da água de Itapetinga
O manejo de pastos na pecuária e agricultura pode levar à utilização e comercialização de agrotóxicos, especialmente herbicidas, o que não é diferente em Itapetinga, uma cidade onde a pecuária é a principal atividade econômica. No entanto, essas substâncias podem se acumular no solo, cursos d’água e outros seres vivos, incluindo a água utilizada para o abastecimento humano, e muitas vezes não são removidas pelos tratamentos convencionais.
Georgiane de Almeida Pires, uma graduada em Ciências Biológicas do campus de Itapetinga, desenvolveu um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Consumo de agrotóxicos e seu potencial de contaminação no município de Itapetinga – BA”, que buscou avaliar o consumo de agrotóxicos na cidade. A pesquisa se baseou em documentos já existentes, obtidos através de ofícios solicitados aos setores responsáveis, como a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), o Núcleo Regional de Saúde do Sudoeste/Base Regional de Saúde Itapetinga e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Os resultados foram interpretados para obter uma sequência linear de respostas.
De acordo com Pires, a análise de agrotóxicos na água de Itapetinga é realizada por uma empresa terceirizada e os resultados demonstraram incertezas. Em sua pesquisa, não foram encontrados registros de intoxicação aguda ou óbitos resultantes de contaminação direta por agrotóxicos no município em 2021. No entanto, essa falta de registros de pequenas concentrações de agrotóxicos nos resultados de análises realizadas pode ser bom ou ruim, pois as substâncias foram detectadas, mas não quantificadas pela técnica utilizada.
Outro ponto preocupante destacado pela pesquisadora é a legalidade no uso de agrotóxicos, onde os Valores Máximos Permitidos (VMP) pela Portaria 888/21 para os parâmetros de agrotóxicos estão muito altos em comparação com a União Europeia e não levam em consideração as crianças que possuem um peso corporal menor que um adulto. Além disso, apenas quarenta deles são monitorados, seguindo a legislação brasileira que aceita valores muito acima do que a União Europeia permite.
O professor Murilo Scaldaferri, orientador da pesquisa, ressaltou que as análises feitas na água do município indicam a presença de uma série de agrotóxicos que não são quantificados por limitações dos equipamentos e metodologias adequadas à legislação brasileira. A próxima etapa é fazer uma análise própria, utilizando equipamentos e metodologias que permitam quantificar esses agrotóxicos encontrados na água, para que possamos comparar com os limites aceitos em outros países e avaliar, com maior precisão, os riscos que a população pode estar correndo com o consumo prolongado, mesmo em microdosagens.