Em Vitória da Conquista, pessoas com ostomia estão há pelo menos três meses sem receber um item essencial para manter a própria dignidade: a bolsa coletora. A crise atinge pacientes como a dona Enriqueta, que precisou passar por uma ileostomia — procedimento que conecta o intestino delgado ao exterior do corpo, exigindo o uso contínuo dessas bolsas.
Até março deste ano, Enriqueta recebia o material gratuitamente no Centro Especializado em Reabilitação (CER) da cidade. Desde então, no entanto, a bolsa adequada ao seu tipo de ostomia — a do modelo convexo, específica para medidas de 45 a 57 milímetros — está em falta.
“Alguns me doam de vez em quando, mas a gente sabe que doação não é sempre, né? Cada um tem seus compromissos”, desabafa a paciente. Enriqueta precisa, em média, de 10 bolsas por mês, o que representa um custo de R$ 1.370 mensais, valor que ela não tem como arcar.
Cada bolsa custa em torno de R$ 27, e cada placa, que é usada junto com a bolsa, custa cerca de R$ 110. Um item depende do outro para funcionar corretamente. Pela legislação, esse material deveria ser fornecido gratuitamente pelo SUS ou pelos planos de saúde.
A Secretaria Municipal de Saúde informou, por nota, que iniciou um processo de licitação para adquirir as bolsas no ano passado, mas não houve interesse de empresas em participar. Um processo emergencial de dispensa de licitação está em andamento, segundo a pasta.
O presidente da Associação dos Ostomizados estima que cerca de 350 pessoas em Vitória da Conquista dependem dessas bolsas — 30 delas necessitam especificamente do modelo convexo, que está em falta.
“Não é só a burocracia, é gestão mesmo”, afirma um dos entrevistados, que hoje vive sem usar o coletor por não ter recursos para comprá-lo.
A falta das bolsas não é apenas um problema de saúde, mas uma violação do direito à dignidade de pessoas que já enfrentam uma condição delicada. O fornecimento regular desse material é mais que obrigação: é um gesto de respeito com a vida humana.