Na noite desta quinta-feira (26), cenas de confusão marcaram a recepção do Hospital Municipal Esaú Matos, em Vitória da Conquista.
Mães com crianças de colo e gestantes se revoltaram contra a superlotação e a demora no atendimento. A situação saiu do controle e foi necessária a presença da Guarda Municipal e da Polícia Militar para conter os ânimos.
A ocorrência não foi um episódio isolado. Foi apenas mais um retrato da grave crise que atinge o hospital, referência em saúde materno-infantil no sudoeste da Bahia — e que já chegou a ser símbolo de excelência na rede pública. Hoje, o Esaú Matos opera em estado de esgotamento.
Esaú virou referência regional sem estrutura compatível
Embora o hospital tenha sido concebido para atender prioritariamente à população de Vitória da Conquista, na prática, tornou-se um centro regional — e até interestadual — de atendimento materno-infantil. Recebe pacientes de dezenas de municípios do sudoeste baiano e até de outros estados, como São Paulo, segundo a própria prefeita Sheila Lemos, em entrevista recente ao Bahia Meio Dia, da TV Sudoeste.
“Gestantes e crianças estão vindo até de fora do estado. A fila cresce, e a cidade não dá conta sozinha”, afirmou a gestora, visivelmente preocupada com a sobrecarga.
Apesar da demanda crescente, o hospital funciona hoje com cerca de 60 leitos ativos, quando o mínimo necessário, segundo a Fundação Pública de Saúde de Vitória da Conquista (FSVC), seria 84.
A falta de estrutura adequada tem gerado exaustão nas equipes, filas intermináveis e uma sensação generalizada de abandono por parte da população.
Promessa de nova maternidade
Durante a mesma entrevista, Sheila revelou que esteve em reunião com o governador Jerônimo Rodrigues, que se comprometeu a apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a proposta de construção de um novo hospital maternidade em Vitória da Conquista. A ideia, segundo ela, é desafogar o Esaú Matos e garantir condições mais dignas de atendimento às mães e aos bebês da região.
Contudo, enquanto o novo hospital não sai do papel, o cenário dentro do Esaú Matos segue grave.
Morte de bebê
Em abril deste ano, o hospital foi alvo de indignação pública e investigação após a morte do bebê John Henrique, que faleceu poucas horas após o parto, na UTI neonatal. A mãe, segundo relatos, ficou quase dois dias em trabalho de parto antes de ser atendida adequadamente, isso porque o hospital tem muita resistência em fazer cesarianas.
Laudos médicos apontaram causas como choque séptico, hemorragia pulmonar e aspiração de mecônio.
O caso gerou suspeitas de negligência médica, atraso no atendimento obstétrico e falta de acesso ao prontuário da paciente. A tragédia escancarou falhas graves no sistema de regulação e estrutura hospitalar.
Em nota, a Fundação Pública de Saúde de Vitória da Conquista, responsável pelo hospital, lamentou o óbito do bebê e destacou que, embora necessária em algumas situações, a cesariana é um procedimento cirúrgico que envolve riscos para ambos e, por isso, “só é realizado quando há indicação real”. Afirmou ainda que, por isso, o pedido da família não foi atendido antes. [leia nota na íntegra abaixo]
População pede respostas
Outro ponto pouco falado, mas alarmante, é o possível aumento do índice de mortalidade infantil. Ainda não há estudos conclusivos que relacionem diretamente esses óbitos à falta de estrutura, mas a coincidência entre a sobrecarga do hospital e o crescimento desses casos tem gerado preocupação silenciosa — especialmente entre os profissionais de saúde e familiares afetados.
A população, que depende diretamente do Esaú Matos, cobra que as promessas se transformem em ações concretas. Afinal, a cada dia de espera, vidas seguem em risco — e, como sempre acontece na saúde pública brasileira, os mais vulneráveis são os que mais sofrem.
Leia a nota do Esaú Matos sobre a morte do bebê e a sobrecarga de atendimento
“A Fundação Pública de Saúde de Vitória da Conquista lamenta profundamente o falecimento do recém-nascido ocorrido no último sábado, 22 de março, no Hospital Municipal Esaú Matos. Manifestamos nossa solidariedade à família e reafirmamos o compromisso em oferecer um atendimento humanizado e de excelência à população.
É importante esclarecer que a paciente deu entrada no hospital na quinta-feira, 20 de março, encaminhada de sua unidade básica de saúde para avaliação de indução do parto.
O procedimento foi iniciado e conduzido de acordo com o protocolo institucional, elaborado e atualizado anualmente com base nas evidências científicas mais atuais.
Durante todo o período em que esteve na unidade hospitalar, a paciente recebeu assistência médica integral, sendo acompanhada por uma equipe multiprofissional qualificada.
Como não apresentava sinais de trabalho de parto ativo, foi adotada a indução com o uso de misoprostol, um procedimento seguro, recomendado pelo Ministério da Saúde e aplicado em casos em que não há indicação imediata de cesariana. Essa conduta visa garantir a segurança da mãe e do bebê, seguindo as melhores práticas obstétricas.
Sem evolução satisfatória, a cesariana foi realizada após indicação médica, priorizando a segurança e o bem-estar da mãe e do bebê. É importante destacar que, embora necessário em algumas situações, trata-se de um procedimento cirúrgico que envolve riscos para ambos e, por isso, só é realizado quando há indicação real. O bebê nasceu necessitando de cuidados intensivos, que foram prestados em sala cirúrgica pelo neonatologista e, em seguida, foi encaminhado à UTI neonatal. No entanto, apesar de toda a assistência prestada, o recém-nascido evoluiu a óbito.
Diante da denúncia sobre o caso, informamos que já foi iniciada uma investigação interna para esclarecer as circunstâncias do ocorrido. Reafirmamos nosso compromisso com a transparência e a responsabilidade na apuração dos fatos. Assim que a investigação for concluída, todas as informações serão divulgadas de forma clara e responsável.
Ressaltamos que o Hospital Municipal Esaú Matos é referência em atendimento maternoinfantil na região, especialmente no atendimento a gestantes de alto risco, sendo a única maternidade pública de Vitória da Conquista. Por esse motivo, a unidade enfrenta uma demanda elevada, recebendo pacientes de Vitória da Conquista e de diversos municípios da Bahia e do norte de Minas Gerais. Destacamos ainda que o hospital funciona em regime de porta aberta, o que significa que nenhuma gestante em necessidade de cuidados obstétricos ou clínicos é recusada.
Em relação à sobrecarga no atendimento, a Secretaria Municipal de Saúde já foi informada sobre a necessidade de ampliação das portas de entrada no município, visando à redução da elevada demanda da unidade. Segundo a Secretaria, providências estão sendo tomadas junto ao Governo do Estado nesse sentido, uma vez que grandeparte dos atendimentos são de municípios não pactuados com Vitória da Conquista, sem o devido repasse de recursos para essa assistência”.
Reportagem: Blog do Caique Santos
🎥 Imagens e entrevistas: Reprodução / TV Sudoeste – Bahia Meio Dia
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