Um chocante crime de feminicídio abalou moradores da cidade de Vitória da Conquista, BA (500 km de Salvador). Os detalhes foram revelados pela delegada Gabriella Garrido, da Delegacia de Atendimento a Mulher (DEAM) e pelo delegado da Polícia Civil, Marcus Vinícius, em uma coletiva de imprensa, na tarde desta quinta-feira (16). O pai da vítima, também esteve presente.
A vítima, Sashira Camilly Cunha Silva, de 19 anos, estudante de Engenharia Civil na Faculdade Independente do Nordeste – Fainor – foi assassinada com golpes de faca e estrangulamento, pelo ex-namorado de iniciais R.S.L, 22 anos e outro jovem de iniciais M.V.F, 24 anos. Vitíma e assassinos eram todos colegas de curso na mesma instituição. O crime foi premeditado e contou com a ajuda de uma terceiro jovem, F.S.G, de 22 anos, também do mesmo curso.
O crime ocorreu na tarde da quarta-feira (15) no bairro Lagoa das Flores. “Ela saiu do estágio e não retornou à casa da família, quando anoiteceu e o padastro dela, Célio Barbosa, que é do Conselho de Segurança, entrou em contato com a Polícia Militar, informando os dados do veículo dela. A Policia Civil tomou conhecimento através do plantão central. Por volta de oh30 um dos envolvidos se apresentou com o advogado ao delegado plantonista que entrou em contato comigo. Pela manhã nós nos deslocamos em busca dos outros 02 jovens envolvidos”, relata a delegada Gabriela Garrido.
“O ex-namorado foi quem levou ela e a dopou com Rivotroil no refrigerante, mas ela não bebeu todo porque reconheceu o gosto, então ela não chegou a ficar inconsciente. No veículo foi encontrado o recipiente do remédio. Ele em seguida a esfaqueou, mesmo ela não estando totalmente dopada e quando um dos seus amigos chegou ao local, ele a ‘finalizou’ com uma ‘gravata’. O terceiro elemento apenas fez a articulação, de chamar o Uber, mandar o outro amigo ao local, mas todos sabiam que haveria um homicídio”, disse o delegado Marcus Vinícius
Um dos rapazes que ajudou o assassino, revelou o local onde o corpo de Sashira foi desovado, já na cidade de Planalto, a 47 km de Vitória da Conquista. De acordo com a polícia, o jovem assassino já hávia agredido a vítima no passado. “Há 02 anos atrás, quando a vítima tinha 17 anos de idade, houve um registro da família dela porque ele a agrediu fisicamente, como ela era adolescente, foi registrado no Núcleo da Criança e Adolescente, ela chegou por um tempo a ter medida protetiva, mas essa medida já tinha expirado”, explicou a delegada da DEAM.
A polícia não sabe ainda se Sashira foi levada pelo ex-namorado à força ou foi espontaneamente.
Segundo o delegado Marcus Vinícius, os outros 02 cúmplices fizeram tudo de comum acordo, mas disseram que não sabiam que a vítima seria Camilly. “Eles pensavam se tratar de outra pessoa, mas já tinham um acordo para matar uma pessoa que supostamente estaria ameaçando o rapaz que se entregou e depois subtrair o veículo para vendê-lo, além da ocultação do cadáver, essa é a versão deles”, explicou o delegado.
A delegada Gabriella Garrido afirmou ter dúvidas sobre a versão dos comparsas quando dizem que não sabiam que a vítima seria Camilly, uma vez que os mesmos sabiam que ela teve um relacionamento anterior com o mentor do crime. “Eles sabiam que foi um relacionamento conturbado, que houve uma situação de violência, porque eles estudavam na mesma faculdade, todos eram estudantes de engenharia civil. Só no decorrer das investigações que vamos saber se eles sabiam ou não”, disse.
Ainda de acordo com o delegado Marcus Vinícius, a jovem foi morta com crueldade, apesar de ser dopada antes, com ‘rivotril’ no refrigerante. “Ela foi esfaqueada, apanhou, isso pelo ex-namorado, logo em seguida, um dos comparsas, terminou estrangulando a menina e levando o corpo para ser ocultado em Planalto”. A perícia vai revelar se houve abuso sexual.
Um dos estudantes que ajudou a matar Camilly, disse à polícia que quando chegou ao local encontrou a jovem ainda viva, dentro do porta malas do veículo, esfaqueada e “grogue”, segundo o termo utilizado por ele, e que então ele a “finalizou” com uma “gravata”.
“No momento do crime estava o ex-namorado e um dos amigos dele. O terceiro envolvido não esteve na cena do crime e nem foi ocultar o corpo de Camilly, mas ele articulou, ele tinha noção do que estava acontecendo, ele fez parte da empreitada criminosa”, disse a delegada Gabriela Garrido
O ex-namorado disse aos amigos que estava sendo ameaçado e que queria matar essa pessoa e roubar o veículo para vender. O segundo elemento, que é mais próximo do assassino, convidou o terceiro, que chegou na cena do crime depois que Camilly já tinha sido esfaqueada, esse terceiro elemento acabou de estrangulá-la e levá-la à morte e em seguida, levaram o corpo para Planalto. Nós localizamos o carro da vítima em um condominio, na casa do terceiro elemento.
Os três envolvidos foram presos em flagrante delito e estão à disposição da Justiça.
Pai de Sashira pede apoio para Campanha contra o Feminicídio
Célio Barbosa, pai de Sashira e membro do Conselho de Segurança, esteve presente na coletiva e pediu a colaboração da imprensa e da sociedade para uma campanha contra o feminicídio. “Minha filha está sendo preparada para ser velada e eu estou aqui, forte, pra mostrar pra vocês e pedir a vocês que nos ajude, vamos todos, vocês da imprensa escrita e falada, vamos encampar uma campanha contra o feminicídio. Eu perdi minha galega, bonita, linda, maravilhosa, fazendo projetos, planos para viajar agora em janeiro, para passear. Eu não vou descansar, vocês vão ouvir falar muito de mim ainda”, emocionou-se.
A Fainor, faculdade onde estudava a vítima e os três envolvidos do crime, emitiu uma nota de pesar. “É com imenso pesar que a FAINOR informa o falecimento da estudante do curso de Engenharia Civil da Faculdade, Sashira Camilly Cunha Silva. Toda a comunidade FAINOR se solidariza com a família e amigos de Sashira, neste momento de dor e luto”.