
Diversidade de chapéus encontrada em Conquista. (Foto: Leilane Sversuti)
Seja de couro, tecido de feltro ou de massa, o chapéu nos protege dos ventos frios de inverno e do sol escaldante, e mais! O item, originado 4.000 a.C. possui uma enorme caminhada histórica até virar um acessório de moda, como é caracterizado nos tempos atuais.
O chapéu trazia a distinção do status social e da autoridade de quem utilizava, caracterizando o poder de reis, guerreiros e do grande clero, chegando a tornar-se mais tarde um meio de demonstrar-se a etiqueta e até mesmo a posição política, proporcionando o requinte e a elegância de uma época de cultura e tradições passadas de pais para filhos.
Independentemente do modelo e marca, o chapéu reina até hoje na cabeça dos apreciadores da boa arte que são esbanjadores de graça nas ruas da cidade de Vitória da Conquista.

Sebastião Pereira de Sousa e seu chapéu (Foto: Leilane Sversuti)
Junto da cabeça do dono, o chapéu traz muitas recordações, em que o mesmo acompanha tudo de uma vista privilegiada. Há quem diga que o item saiu de moda, Sebastião Pereira de Sousa, 68 anos, discorda. Morador de Vitória da Conquista desde os oito anos, começou a usar o acessório desde criança quando foi diagnosticado com Febre Tifóide. Como os cabelos começaram a cair com muita frequência, usava o chapéu em todas as ocasiões, no trabalho em que atuava como pedreiro, e em casa. O chapéu tornou-se o seu melhor aliado. “Eu uso chapéu desde que nasci, e não saio sem, só tiro mesmo na igreja por respeito. Tenho chapéu pra ficar em casa e pra sair, que tem de ser mais arrumado. Tenho pra viagem também”, disse Sebastião. Atualmente, aposentado, Sebastião caminha nas ruas com orgulho enquanto carrega o objeto em sua cabeça como se fosse uma coroa, que esconde os vestígios de uma quase careca substituída por muito carisma e bom humor. Vaidoso, o aposentado afirma que já teve mais de 70 chapéus durante toda a vida, e que cuida dos objetos muito bem, juntamente da esposa que o auxilia neste processo, para que sempre esteja bem-arrumado. Sebastião afirma: “O chapéu é muito importante, porque além de proteger é bonito e me traz boas lembranças de meus familiares. O meu pai sempre usava, onde quer que fosse. Eu sigo este exemplo. É uma pena que meus filhos só usam boné, para mim o chapéu é bem mais bonito”.
Ao contrário de Sebastião que considera o chapéu como parte integrante do corpo, José Neris, 85 anos, começou a usar o chapéu com mais frequência em meados de 2015, quando ganhou o objeto de um de seus familiares. Antigo morador de Poções e residente em Vitória da Conquista há cinco anos, José conta que na época em que trabalhava na roça utilizava o objeto para proteção do sol extremamente forte, porém afirma: “Só vim usar mesmo de um ano pra cá”, e completa: “O chapéu é uma moda antiga, meu pai usava com muita frequência e agora, depois de muitos anos, eu uso também”.
A vendedora Rosilane Pereira, 33 anos, trabalha há três anos em uma loja de acessórios localizada na Av. Siqueira Campos. Ela conta que a venda de chapéus é o que mais rende lucro para a loja, existente há sete anos na cidade de Vitória da Conquista. Rosilane afirma que não existe faixa etária, nem sexo: “Todos apreciam a compra de um belo chapéu. Aqui, eles são bem variados e agradam vários públicos”, disse. Segundo a vendedora, grande parte dos consumidores vai à busca do objeto quando está programando uma viagem. Principalmente para fora do Brasil, porém, a procura também é muito variada para moradores da cidade que apreciam o objeto para uso no inverno e verão.

Alguns modelos de chapéu tradicionais. (Foto: Leilane Sversuti)
Cida Oliveira, 49 anos, dona de uma loja de montaria localizada no centro da cidade, afirma que o comércio de chapéus é bem lucrativo e que sua loja, existente há 23 anos, é referência na cidade quando o assunto é montaria e artigos country. Cida explica: “A clientela é diversificada, varia de oito até 60 anos. Em sua maioria são donos de fazenda. As crianças são trazidas pelos pais e quando envelhecerem serão elas que trarão seus futuros filhos, é uma moda que nunca sai de época”. Segundo Cida ter um chapéu hoje em dia é bem mais acessível. Em sua loja eles produzem os chapéus de couro e possuem fornecedores para os demais modelos. Os preços são assim como os modelos: variados. Há modelos de R$ 20, 50, 160 e até mais. Cabe ao comprador decidir o que melhor se adequa ao bolso e a cabeça.

João Teixeira. (Foto: Leilane Sversuti)
João Teixeira, 71 anos, aposentado, hoje cultiva frutas e hortaliças em sua fazenda localizada no Cedro, povoado próximo ao bairro Lagoa das Flores onde mora há 19 anos. Para ele, o uso do chapéu é muito importante, seja no auxílio e proteção dos raios solares, para sair ao centro, nas lembranças que guarda de seus irmãos e de seu pai, todos assíduos consumidores de chapéu. Ele conta que seu pai sempre o presenteava com o objeto que usa desde os oito anos. Com um sorriso e expressão de alegria no rosto, João afirma: “Eu nunca tive carro, mas meu chapéu e meu cavalo são melhores que carro. Eu não ligo de não ter um carro desde que eu tenha o meu chapéu. O que importa é viver na humildade e agradecer a Deus pelas conquistas diárias”, e desabafa: “Os jovens de hoje não sabem apreciar a voz da sabedoria e nem a bonita moda das pessoas mais antigas. Eu tenho o chapéu como recordação, é muito importante pra mim e para meus familiares”, afirma João emocionado.
Houve uma época em que usar chapéu era tradição, desta maneira, era comum encontrar diversas pessoas utilizando o artigo nas ruas, sendo a representação de status, poder e até mesmo dignidade. Atualmente são os idosos que resistem e cultivam este uso com muita paixão, já seus filhos, não semeiam estas práticas. Os jovens que usam chapéu hoje, não o utilizam com os mesmos ares de antigamente, procuram apenas se adequar a uma moda, não há uma mensagem a ser transmitida, muito menos, uma grande significação para a nova geração. Porém, para pessoas como João, Sebastião e Neris, há estima e orgulho em sair às ruas exibindo os seus chapéus, para eles, usar chapéu é trazer o reflexo de um tempo antigo de costumes e lembranças que não foram ultrapassadas pelos apreciadores da boa proza sertaneja.